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A FHO

Ponha o lixo para fora! Mas fora, onde?
Prof. Rafael Povedano
03 minutos
Professor do Comitê de Sustentabilidade da FHO
Menino, ponha o lixo para fora!

Esta frase é repetida por dona Maria, mãe de Joãozinho, quase diariamente. Segundo dona Maria, em sua casa, onde também moram o esposo e os dois filhos, o lema é o seguinte: “Todos devem colaborar com a limpeza, afinal, nada se arruma sozinho!”.

Joãozinho, ao ouvir a ordem da mãe, e já ciente de sua obrigação diária, sem pensar segue o ritual: pega os sacos de lixo e os coloca na calçada, onde o caminhão do lixo os recolherá mais tarde.

A certa altura da vida, Joãozinho, já cansado de sua rotina (mas como todo menino de sua idade, preocupado em não criar problema com a mãe), passou a recolher o lixo e a deixá-lo jogado em um canto pouco visitado do quintal, ao invés de levá-lo “para fora”, onde seria recolhido pelo lixeiro.

Dona Maria, um certo dia, incomodada com o mal cheiro e as moscas nunca antes vistas em tamanha quantidade em sua casa, decidiu investigar. Ao vasculhar o quintal, levou um enorme susto ao se deparar com a “montanha de lixo” deixada por Joãozinho. Indignada, a mãe interpelou o filho:

“Menino, não mandei jogar o lixo fora de casa?”. Ao que o menino responde: “Sim, e foi isto o que eu fiz mãe. Levei para fora de casa, no nosso quintal!”.

Há alguns anos, alguém proferiu uma frase simples, mas assustadoramente verdadeira:

Não existe lá fora!

Você já pensou nisso? Quando você joga “algo fora”, onde é lá fora?

Quando jogamos algo fora, inconscientemente temos a reconfortante ideia de que aquilo simplesmente desapareceu. Mas não é assim, o lixo não desaparece! Todo o resíduo gerado é armazenado em algum lugar de nosso planeta.

Empilhado em aterros sanitários, criam montanhas de lixo repletas de contaminantes, que alcançam o solo e a água. Os dejetos sanitários são lançados nos rios sem tratamento, tornando imprópria a água que nós mesmos consumimos.

“Jogar algo fora”, na verdade, se refere unicamente ao ato de retirar de um local e transportar para outro. A diferença em relação ao caso de dona Maria é que os resíduos são, em geral, transportados para locais mais distantes de nossas casas.

Na prática, é basicamente isso o que fazemos diariamente: retiramos o lixo de um canto de nossa casa, o planeta Terra, e o enviamos para outro, onde, longe de nossos olhares, ele se amontoa, sem pesar em nossa consciência.

E esta rotina se repete todos os dias na casa de Joãozinho e em todas as casas de sua rua. Também nas demais ruas do bairro e de toda a sua cidade. Em praticamente todo o mundo, diariamente, todos nós, num ato quase que involuntário e impensado, “jogamos algo fora”. E fazemos isto numa velocidade e em uma quantidade que o planeta não é capaz de processar. Estamos, na prática, enchendo nossos quintais de lixo, tal qual Joãozinho.

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